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Não sou de espalhar-me no esgarçar alheio, nunca fui,
acho torpe a vingança, vileza dá-me náuseas.
Porém considero orgulho uma desfaçatez para consigo mesmo.
Pra que? Onde mora a dignidade de quem não sabe pedir socorro,
seja em que contexto for?
Silêncio e frieza só demonstram, mais ainda, comprovam,
o quanto o sujeito está a debater-se no seu próprio desalinho,
escondendo-se nas praças mais profundas do seu desavir.
O que me atenta não são as palavras mas justamente a ausência delas.
Atitudes desamanhadas, opostas ao que sempre se foi, alertam-me
para o sofrimento alheio.
Cá do meu castelo aprecio, sem regozijo e apeada em desagrado,
o quanto dói o descontente.
Vontade minha é de abraço, que de falatórios não carece o sofrente.
Sei o que sente, vivo-o em mim e seria exatamente o que eu desejaria,
um abraço morninho e todo, que afastasse da alma a peleia,
anuviando os rasgos e desamargando o carreiro.
Mas há quem prefira falir sem alarde.
Tem (des)gosto para tudo ...
Ai,ai, vem aí mais uma lua cheia...
daqui a nada a visita "espalha-se" pelo diminuto recinto
onde desenvolve o reforço da pirraça. Ó dó!
Descarregar outro tanto de "obséquios" à minha porta?
É escusado, por cá há santuras intransponíveis, ó pa! Há muito é escusado!
Só rio, sou rio, e nele deposito a oferta precita e sigo caminho.
Pró mês, outra tentativa. Ó dó!
Wandrade-16/10/2013
Dia de incrementar a falseta,
imaginar euforia, que alegria genuína,
já se sabe é parca.
Cachinadas sonoras ao jantar que honra Baco,
para incentivar, mais tarde, “irrefreadas ânsias” de prazeres enganados.
Suspiros sobranceiros ao léu põem-se apostos para evidenciar ao mundo…
o que não se realiza, mas que é imperioso vistar…
Saem de cena os rendeiros, deixando o palácio livre à fantochada
que, como sempre dá em nada.
Concluída, enfim, a jornada, um dormirá o sono dos justos,
dessabido do logro, julgando-se em paz,
o outro fintará o recalque debatendo assonia e assombros,
vingado, talvez, realizado jamais.
WAndrade – 21/06/2013
Procura-se a roupa bem posta e elegante,
em combinações perfeitas que se faziam notar.
Procura-se o alinho e o capricho que aos olhos saltavam só de se ver passear.
Procura-se o ar brejeiro de andar quase em jeito de passarinhar.
Procura-se a pele de altéia e o bom regozijo no dom de falar.
Procura-se a voz sonante que era assim uma fonte de bom frasear.
Procura-se quem, no retálio, rema ao contrário,
naquilo que é falho, na ânsia esquisita de desfrontar.
WAndrade-20/06/2103
A alegria, o estado de felicidade, o tal do “estar muito bem”, são matreiros.
Se genuínos, infiltram-se, delicadamente, nos olhos, nos gestos,
no jeito leve de andar,deixando a quem vê,
a certeza de que vai ali uma pessoa realmente feliz.
Mas, se ao contrário, o “estar muito bem”, mostra olhos ressentidos
numa cara rota, gargalhadas estrondosas e mímicas, acompanhadas
de balbúrdias forçadas, aí, companheiro, o “estar muito bem”
revela-se inteiro, sem dó, num imenso
à vontade para mostrar que esconde o falhanço, vulgariza quem
se diz “feliz”, traz à tona aquilo que o verniz barato não conseguiu abrilhantar.
Ora, estar muito bem é simplesmente estar, não precisa
de amostras gratuitas de prazeres inventados, não precisa
de “gritar” um fogo que, sabe-se, é brasa pequena, sem raça, quase fumaça.
Estar bem não bate portas, nem precisa fazer barulhos.
Não se expõe à má cara dos outros e nem ao deboche pelas costas.
Estar bem atinge… sempre, sem esforço, não finge em desagravo.
Estar bem não é cena, nem comédia, nem espectáculo patético.
Estar bem é. E ponto.
WAndrade - 20/05/2013
Lamentas?
Depois do tempo de arrumos é hora de constatações.
Pois… era escusado o lamento do amor tardio.
É de lamentar, isto sim, a alma andarilha que carregas farta,
anuviada como teus olhos sombrios, frios, frios…
Sem pouso e desgarrada de encantos, vê-se a vida-fardo
que intentas, à força, ser de alguma beleza e novidade.
Rumos revezados, óbvios de peso e cansaço, enfeiam tua
tez, agora avessa à sorrisos veros e simples de sorrir.
Teu pesado caminho de passadas duras trai solene
o teu esforço em mostrar contentamento ou gozo.
Corres de encontro ao vago que constróis dos nadas
que permeiam teu vazio, mostram-me teus olhos,
que insistes em desviar, quando passas por mim.
O que não consegues é desviar o coração.
Lamento.
WAndrade - 20/06/2013
A questão não foi a festa fora d’horas
Ou as companhias repentinas e já tão íntimas…
Também nem foi o suposto colóquio arfante
para mostrar vitórias e que tudo já passou…
A questão foi o olho embaçado ao bater no meu
Tentaste mostrar supremacia, vi saudades
Aparentavas frieza mas tremias, ah, tremias
Quiseste armar-me uma cilada? Tempo perdido,
criança, não sabes ainda armadilhar
Mas uma coisa sabes, no fundo da alma, sabes
Ninguém nunca te vai levar onde só eu consegui…
Continua a tentar.
Wania Andrade – 09/05/2013