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Passou à minha frente na fila da tabacaria…nem me viu…penso que nada via
O senhorinho cinzento trazia na mão o telemóvel, como quem sustenta algo muito precioso
Queria colocar saldo no aparelho.
A atendente meneou a cabeça em minha direção, mas passei a vez ao senhorinho cinzento.
Entregou 5€ mas era pouco, o tarifário só permitia o mínimo de 7,50€. Ele retirou a nota e disse que não podia. Aquele momento congelou para mim (para a atendente também); ficamos ali os três, parados, a vida parada num segundo triste de reticência.
Ele retirou-se, como entrou, vago.
Pedi o tabaco com a voz trêmula , a alma confusa e o pensamento embaralhado…
Consegui alcançá-lo já perto da saída e perguntei, palavras trôpegas, se não queria que eu o “ajudasse” a pagar o telefone.
Ele não olhou para mim, apenas disse que não, já não valia a pena. E foi embora.
Por alguns desconcertantes segundos fiquei ali, imóvel, talvez tão cinzenta por dentro quanto ele.
eu não digo que é um infeeerrno?