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Sabia que estava mal-feliz.
Não precisava que alguém o dissesse.
Sentia, apenas sentia...
Não que fosse infeliz…algumas coisas até tinham, ainda, uma certa piada,
mas… estava gasto, desiluminado, qualquer coisinha era já uma impertinência.
Um quase inquieto, ali, no fundinho do peito, desequilibrava
os pensamentos, a sensação de precipício que conhecia bem.
Aquilo estava mesmo a dar para o torto, sentia-o nos pequenos
desandos diários.
A falta dos ares frescos daquelas promessas, postiças agora sabia,
já não causava, senão, cansaço.
Tinha que admitir, aquilo estava a perder lugar na sua vida,
nem as tentativas cambaleantes interessavam mais...
sabia, sabia que estava mal-feliz...
as enormes madrugadas de agora eram a prova disso.
É, ouvir aquela voz, depois de tanto tempo, fez todo o sentido…
WAndrade – 06/06/2014
Meu novo paradeiro nestes domingos outonais e solarengos.
Aqui um vento brando acaricia árvores de folhinhas meninas e inquietas,
que aquiescem aos mimos com murmúrios e gemidos, lânguidas e frescas.
Passeio pelas estradas pintadas de folhas castanhas e nelas meus passos
brincam de farfalho.
Largo-me neste momento quente, quase, quase adormecendo,
nos verdes vários onde me entrelaço, nesse quase silêncio de mim.
Aplacar a culpa, a vida rota e a desilusão.
Aumentar o quinhão do dízimo que impôs, crendo assim,
seguir caminho reto.
Ledo engano, pior destino.
Bem pior deitar a cabeça (de dia erguida num falsar dolorido)
no travesseiro caro, que ainda assim lhe debanda o sono.
Bem pior o reflexo do qual não pode fugir todas as manhãs,
olhar nos próprios olhos e ver quão vazia e solitária tornou-se a estrada.
Tudo o mais, quase, la plata oferece, adula, alcança, até delicadeza!
Sim, os haveres impõem robustez de caráter, vigoram, por momentos,
o gorado, que o decadente nababo, em sua alma inconsistente... não vê.
Não quer ver e jamais admitirá que o solo impoluto que escolheu arar,
logrou-lhe apenas era encardida.
Então impõe silêncio e distância, supondo que tal postura conceder-lhe-á o
salvo conduto de alguma credibilidade.
Ledo engano, pior destino, agindo assim assina com letras graúdas o fiasco
que comprou prodígio; sanciona e lavra a lesa que fiou em ouro,
ficando exposto aquilo que sempre se soube.
WAndrade - 15/10/2013
Engano, grande engano esse de pensar que quem
não procura não sente falta ou não tem saudades.
A saudade vai assim "comendo pelas beirinhas",
amofinando os dias, destratando os aprecios,
definhando o pensamento. Mas o alto não se dobra,
fecha o senho atarantado, tentando abafar a alma anulada.
A falta… ah, esta, cortante como o tempo,
embutida num esgar mal assentado que o sujeito diz sorriso,
se vai esgueirando pelos cantos mal trancados,
pelas bordas mal cobertas e, calada,
acata o triste que de alegre se vestia.
Sem passado ou oriente o preclaro jaz de tonto,
pois o orgulho nesse dito faz mais pompa que o sentido.
WAndrade - 27/10/2013