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Pesquisa e Arquivos [2] Gosto quando eu gosto de mim Das minhas essências misturadas, dos meus castelos amarelados de um feitio ou outro meio assim, ora fosco, ora carmim Ora essa, gosto quando eu gosto de mim das minhas ausências demoradas, dos meus sentidos apurados da total falta deles, às vezes… às vezes, portanto, gosto quando gosto de mim da minha fasquia sem pista, do meu pedaço mais quieto, do silêncio que silencio inquieta e indisposta e inadequada Cada quadra onde retomo o verso, gosto Gosto quando gosto de mim. WAndrade – 27/02/2013 Pior que o tormento só a resignação. Uma chuva de granizo no peito saberia mais leve do que a estagnada fonte onde agora bebia a vida. Ilusão que foi , é à toa no presente desenxabido e parco. Voar é de lei, sim, mas somente para quem leva nas asas as nuances dos céus que pretende. No mais, trambolhões descabidos, alma ralada e orgulho ferido. WAndrade – 27/02/2013 O meu inferno tem gosto. De algodão doce misturado com dia de sol. De beijo molhado de chuva, de boca, de mar De gelado de flocos com saquê O meu inferno tem gosto. De terra, molhada, sabe? Aquela com cheirinho de nós mesmos, crianças De manga, chupada na varanda, escorrendo até o cotovelo e de risada no meio da alma, lavada… O meu inferno é cerveja gelada com linguiça frita, bem picante e papo furado, papo do largo, papo de amigo que junta contigo na hora que for O meu inferno tem gosto. De tinto maduro e lareira, douros em flor de amendoeira, de neve enfeitando a janela, de praia a cinquenta graus. O meu inferno tem gosto. De pão com manteiga, quentinho De pão com chouriça, quentinho O meu inferno é meu céu despenteado, meu cadarço desapertado, meu cachecol bem trançado. O meu inferno é a coisa mais linda, mais cheia de graça*, com quatro paredes caiadas e um cheirinho a alecrim**. O meu inferno é o que somos todas as eu, é a soma que faço de mim. *Garota de Ipanema – Vinícius de Moraes e Tom Jobim ** Uma casa portuguesa - Amália Rodrigues WAndrade - 25/02/2013 Lembrança é coisa danada mesmo, hein? Ainda que a alma, adestrada para ter cadência, imponha sossego, o coração descomportado, chacoalha dentro do peito qual pipoca no tacho e desce para as pernas e termina nas mãos suarentas e frias. Tudo volta, a incerteza do que era ou poderia ser, aquele segundo em que se ouve a verdade tão temida, a sala verde, todos tão de verde, o teto e suas luzes fortes, tão fortes, apagar… o acordar sem saber onde está, quem é, ainda sou eu? Inteira? Recuperar, reagir, superar, superar, olhar no espelho o que já não é o mesmo…é, tudo volta. Hoje foi meu Dia E… dia de exames no hospital. Lembrança é coisa danada mesmo, hein? Força também! WAndrade – 26/02/2013 Amigos e visitantes do "Inferno": Peço que deixem a vossa opinião nos comentários e nos "gostos" abaixo de cada post, ou email. É importante para mim saber como vocês recebem o "inferno", ok? O blog cresceu e agradeço a quem vem aqui honrar-me com sua visita. Convido a todos a espreitarem os momentos mais antigos do blog, os anos passados, os textos mais antigos, dos quais gosto muito também. Passeiem pelo "inferno", é seguro, continuo assegurando. Obrigada, Wania Andrade - 25/02/2013 A moça adormeceu. Nua e branda nem a viu sair. Mais um corpo, outro copo e rua, que a cabeça não suportava o silêncio. A madrugada oferecia uma lua quase cheia, Pensou na canção que nunca mais cantara... Fingiu não perceber a discreta inquietação no peito, respirou fundo um pouco, acelerou e riu da sua saudade sufocada em outras coxas, mãos, bocas e... olhos fechados Wandrade - 28/01/2011 Leve é passarinho, que nasce alma alforriada…asas. Rasa a lua quando assim lhe apetece, faz-se à terra quando brinca um descanso, trincando um bocado de vida qualquer. Leve é passarinho, que quando vê brilho num novo carinho faz ninho acalmado, coberto de encantos, ornado de mato cheirando a chuvisco. Trabalho esmerado como ao amor convém, enleva a fortia do bico que tem. WAndrade – 18/02/2013 Aquilo sabia a não sabia o que, mas doce não era. Era de leve açoite, mas diário como a noite. Perverso lobo que espreitava, matreiro, as horas desertas em que madrugava exangue pela tela. Tinha quedado, escusado negar. Nascido falido, o enredo parco mais e mais impunha-se desajuntar. E isto feito, quem sabe, deitava ao lume de uma estrela pequenina que no só colou a rima, que sabia a esperar. WAndrade – 18/02/2013 Saber perdido o elo encantado de pedrinhas de brilhantes, ou que se essa rua fosse minha eu mandava ladrilhar… com o que mesmo? e que samba lelê ficou doente, de coração quebrado porque o anel era de vidro… que o cravo brigou com a rosa e tirou o seu pezinho porque a canoa virou. Afinal ele é cravo, não é peixe e nem sabe nadar. Saber que o pião bambeia, não sapateia quando é para entrar junto na roda. É, Sianinha, na ciranda, cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta. Volta e meia. WAndrade – 19/02/2013
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